Fábio Oliva com o ex-prefeito de Washington-DC, Tony Williams
por FÁBIO OLIVA
PARIS, FRANÇA - John Rossant, presidente da New Cities Foundation, disse hoje (14), em Paris, França, durante a abertura do New Cities Summit 2012 (Cúpula das Novas Cidades), não acreditar que os governos sozinhos sejam capazes de resolver os problemas das cidades. Ele defendeu a necessidade de os governos municipais estabelecerem parcerias com a sociedade, fundações e empresas e outras organizações para encontrar soluções para os problemas que as cidades apresentarão no século 21.
Com a conclusão de Rossant parece concordar a maioria dos líderes globais presentes ao evento. Geoffrey West, uma das maiores autoridades do mundo em problemas urbanos observou que “quanto maior as cidades ficam, mais criatividade é necessária para lidar com seus problemas”. Segundo ele, na medida em que as cidades crescem, crescem também a criminalidade, a necessidade de maiores escolas, hospitais e outros serviços públicos, sendo um equívoco achar que esses problemas são independentes. “Todos esses problemas estão conectados”, ele disse.
O ex-prefeito de Washington-DC, Tony Williams, salientou que os prefeitos não podem deixar de tomar medidas impopulares com receio de não vencer as próximas eleições. Citou seu próprio exemplo quando precisou fechar um hospital. Apesar de impopular, disse ele, adiante a população acabou entendendo que era a melhor atitude a ser tomada, tanto que o reelegeu.
Todos os especialistas concordam que o fluxo migratório das populações do interior para as cidades é irreversível. Ajit Gulabchand, presidente de uma das maiores construtoras indianas, a Hinduston Construction Group, lembrou que atualmente a Índia é o país que tem a maior migração para a área urbana do mundo. “Levamos dois mil anos para ter a população atual e só vai levar mais 40 anos para termos a mesma quantidade de gente morando em cidades”, afirmou.
Para Gulabchand, em todo o mundo “as cidades não recebem a necessária atenção do governo”. Ele calcula que no ritmo migratório atual, nos próximos 40 anos haverá a necessidade de se construir 500 novas cidades para abrigar a população mundial que está migrando para as áreas urbanas. “Não dá para esperar o governo se mexer”, salientou ao destacar a importância das empresas e organizações se unirem à sociedade para enfrentar o problema.
Gulabchand observou que “o grande desafio será criar empregos, escolas e hospitais para atender essa avalanche de pessoas que vai se mudar para as cidades”.
Wim Elfrink, vice-presidente da multinacional Cisco, observou que desde a antiguidade as pessoas se mudam para as cidades em busca de mais segurança, prosperidade e qualidade de vida, processo que não há como ser freado. “Levamos de 2 a 3 mil anos para criar as cidades que existem hoje, e a solução não é só criar novas cidades, mas inovar as atuais”, assinalou.
Elfrink defende a ideia de que a solução para os problemas das cidades no século 21 “será abraçar o máximo de tecnologia”. Um exemplo de como o bom uso da tecnologia pode ajudar a resolver os problemas da cidade foi dado pelo prefeito de Vancouver, Canadá, Gregor Robertson.
Na cidade que é considerada uma das mais caras do mundo para se viver, os postes de iluminação passaram a ter múltiplos usos. Neles foi instalado um sistema em que o motorista descobre, através do celular, onde tem vaga para estacionar.
Vancouver trabalha para ser a cidade mais verde do mundo até 2020. Diferente do que acontece no Brasil, onde políticos tentam se perpetuar no poder, o prefeito Robertson não é político profissional. É um empresário. Ele disse que após cumprir o seu mandato, voltará para a exercer as mesmas funções privadas que exercia antes de se eleger.
Gregor Robertson disse ainda que “as pessoas terão que se conscientizar em matéria de consumo responsável e sustentável de energia, água e recursos naturais”. Observou que “não há como construir as cidades do século 21 da maneira como tratamos a questão do lixo hoje”. No ritmo migratório atual, ele diz, “teremos que criar 3 bilhões de empregos nos próximos 30 anos em todo mundo”.
O vice-presidente da Cisco, Wim Elfrink, foi enfático: “Não tem como o setor público fazer tudo sozinho. Tem que ter parceria com empresas, fundações, sociedade e organizações”. Assinalou ainda que os políticos atuais “precisam incentivar o surgimento de novas lideranças, porque eles não serão sempre reeleitos, nem durarão para sempre”.
Ele observou que “os muros não resolveram o problema da segurança; é preciso pensar em outras soluções para esse problema”. Na opinião do vice-presidente a Cisco, a grande quantidade de pessoas pobres morando em áreas urbanas não é culpa das cidades. “Cidades não empobrecem a população. A população pobre é que vem para as cidades em busca de melhores oportunidades de vida”, esclareceu.